quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Nº5: Noureddine Naybet

  • Noureddine Naybet.
  • Defesa Central.
  • Nasceu a 10 de Fevereiro de 1970 em Casablanca (Marrocos).
  • Títulos no Sporting: 1 Taça de Portugal (1994/95) e 1 Supertaça (1995/96).
  • 115 Internacionalizações por Marrocos com 2 golos marcados.

Noureddine Naybet foi um dos melhores defesas centrais que já vi jogar no Sporting, sendo considerado mesmo dos melhores a nível europeu quando jogava ao mais alto nível. Foi, inclusive, considerado o 17º melhor futebolista africano dos últimos 50 anos, numa sondagem promovida pela CAF em 2007. Destacava-se pela capacidade de antecipação e forte marcação aos avançados adversários e por ser um líder natural na defesa. Contudo, revelava, por vezes, um mau feitio que o tornava mais impetuoso, não só com adversários, mas também com os próprios colegas e treinadores. Jogou apenas 2 épocas no Sporting, tendo saído a preço de saldo para o Deportivo da Corunha para confirmar as suas qualidades. Daí só saiu em 2004, não por falta de propostas, mas por ser considerado um imprescindível pelo presidente do Deportivo, Augusto César Lendoiro.


Nascido em Casablanca, Naybet ou “El Moro”, como era conhecido em Espanha, iniciou a sua carreira futebolística ao serviço de um dos clubes da cidade: o Wydad Casablanca. Chegou aos seniores com apenas 19 anos, em 1989, e assumiu-se logo na defesa. Disputou os Jogos Olímpicos de 1992 pela selecção marroquina, que ficou pela fase de grupos com 3 jogos, 1 empate e 2 derrotas. Naybet foi o capitão da selecção marroquina nos 3 jogos (1-1 com a Coreia do Sul, 0-4 com a Suécia e 1-3 com o Paraguai) e marcou 1 golo no jogo contra o Paraguai, aos 70m. No ano de 1993, emigra para a Europa, para o destino favorito dos futebolistas africanos: a França. É o Nantes que o acolhe por 1 época, na qual disputa 34 jogos e marca 1 golo. Logo em 1994 é convocado para a selecção marroquina, que desiludiu no Mundial 1994 ao contabilizar por derrotas os 3 jogos efectuados (0-1 com a Bélgica e 1-2 com Arábia Saudita e Holanda). Naybet só não jogou o último jogo contra a Holanda.
Nesta altura, o Sporting precisava de defesas após as saídas de Marinho, Leal e Carlos Jorge e a iminente saída de Stan Valckx. Não tarda muito para Noureddine Naybet ser apresentado em Alvalade, por Sousa Cintra, juntamente com os defesas Marco Aurélio (ex-União da Madeira) e Pedrosa (ex-Salgueiros), os médios Oceano e Carlos Xavier (regressados da Real Sociedad) e os avançados Chiquinho Conde (ex-Vitória Setúbal), Sá Pinto (ex-Salgueiros) e Amunike (ex-Zamalek). Naybet e Marco Aurélio assumem-se logo como os patrões da defesa leonina, impressionando Carlos Queiroz e os adeptos do Sporting e tornando menos dolorosa a saída de Valckx para o PSV.

Plantel 1994/95 do Sporting. Naybet está na fila de baixo e é o 4º a contar da direita.

Nessa primeira época, Naybet disputou 26 jogos no Campeonato Nacional e marcou 2 golos. Estreou-se a 20 de Agosto de 1994, no S. Luís em Faro na vitória por 2-0 do Sporting contra o Farense. Por lesão falhou o mês de Setembro e consequentemente a eliminatória da Taça UEFA com o Real Madrid. Regressou à equipa em Outubro e marcou o seu 1º golo com a camisola do Sporting no dia 26 de Novembro em Leiria, na vitória por 3-0 sobre o União local (marcou aos 41m, sendo os outros golos apontados por Marco Aurélio aos 23m e por Luís Figo aos 74m). O outro golo que marcou nessa época ocorreu a 19 de Fevereiro de 1995, nos Barreiros, na vitória por 2-0 sobre o Marítimo (golo aos 36m, sendo o outro apontado por Amunike aos 74m).
Na Taça de Portugal, Naybet jogou 5 jogos e foi fulcral na sua conquista (2-0 ao Marítimo na final, com golos de Iordanov aos 10m e 86m).


Equipa do Sporting em 1995/96.
Em cima, da esquerda para a direita: Marco Aurélio, Luís Vasco, Oceano, Naybet, Vujacic e Amunike.
Em baixo, pela mesma ordem: Jorge Cadete, Sá Pinto, Nelson Alves, Pedro Martins e Assis.

Na temporada seguinte (1995/96), Naybet superou-se realizando 28 jogos para o Campeonato e marcando 3 golos. Esses 3 golos foram marcados: a 15 de Outubro de 1995 em Leiria, aos 56m, na vitória por 2-1 contra a União local (o outro golo foi marcado por Oceano aos 68m); a 23 de Dezembro de 1995 em Alvalade, na vitória por 4-1 sobre o Gil Vicente (Naybet marcou aos 5m, sendo os restantes golos apontados por Beto [auto-golo] aos 13m, Carlos Xavier aos 54m e Oceano ao 67m); a 23 de Março de 1996, em Santo Tirso, foi decisivo ao empatar aos 90m o jogo frente ao Tirsense (1-1).
Essa temporada ficaria marcada pela vitória na Supertaça (3-0, em Paris, ao FC Porto) e pela derrota na final da Taça de Portugal por 3-1 frente ao Benfica, jogo manchado pela morte de um adepto sportinguista. Em ambos os jogos, Naybet foi titular. Aliás, na Taça jogou os 7 jogos. Nas competições europeias, Naybet alinhou nos 4 jogos disputados pelo Sporting, frente ao Maccabi Haifa (4-0 e 0-0) e frente ao Rapid Viena (2-0 e 0-4).
No final da época foi vendido, a preço de saldo, por José Roquette ao Deportivo (1.2 milhões de euros).



Na Corunha, assumiu-se imediatamente como o patrão da defesa. Ficou no Deportivo durante 8 anos e chegou aos 211 jogos na Liga Espanhola, marcando 11 golos. Ficou ligado aos anos de glória do Deportivo, conquistando 1 Liga, 1 Taça do Rei e 2 Supertaças. Foi considerado um dos melhores centrais a actuar na Europa e gerou cobiça de grandes clubes. Mas primeiro há que dizer que esteve em mais 1 Mundial: o de 98 em França. Marrocos ficou no 3º lugar do Grupo A, com 4 pontos resultantes de 1 vitória (3-0 à Escócia), 1 empate (2-2 com a Noruega) e 1 derrota (0-3 frente ao Brasil) e Naybet alinhou nos 3 jogos.






Em 1999, Real Madrid e Manchester United disputaram a contratação de Naybet que acabou por ficar na Corunha por imposição do presidente Augusto César Lendoiro que exigiu 24 milhões de euros ao Real Madrid. Já o Manchester United desinteressou-se devido a um suposto problema num joelho, contratando Silvestre em vez de Naybet. No ano seguinte, Naybet foi notícia pelo seu mau feitio ao entrar em rota de colisão com o treinador Javier Irureta, num episódio curioso. Num exercício de cruzamentos para a área, Naybet resolveu cortar um com o calcanhar, sendo logo recriminado por Irureta: “Deixa-te de brincadeiras”. No lance seguinte, Naybet cortou a bola com a canela e Irureta gritou: “Pára de fazer de palhaço”. Naybet respondeu em árabe, Irureta mandou-o levar no c* ao que Naybet respondeu: “Vai tu levar no c* e tem mais respeito”. Depois, mais um corte de raiva e Naybet abandonou o treino.
Em 2003, já sendo colega de Jorge Andrade, novo episódio de indisciplina para com Irureta. Regressados da Noruega, o avião teve que aterrar em Salamanca já às 4 da manhã. O restante trajecto seria completado de autocarro. Vários jogadores recusaram-se a entrar no autocarro alegando cansaço. Irureta ordenou-lhes que subissem e o último a ceder foi…Naybet. A teimosia foi tanta que só subiu para o autocarro depois de Irureta dar ordem de marcha ao motorista.

Em 2004, o Deportivo sofria de dificuldades financeiras pelo que a estratégia mudou. Procurou-se vender os melhores jogadores e contratar jovens. Naybet foi vendido por 1 milhão de euros ao Tottenham, sendo peça importante na época de 2004/05 ao disputar 29 jogos e marcar 1 golo ao Arsenal. Na época seguinte foi preterido alinhando apenas num jogo, sendo dispensado em Maio de 2006. Em Agosto de 2007 foi indicado como treinador-adjunto de Henri Michel na selecção marroquina.

Na selecção marroquina teve um percurso brilhante ao actuar em 115 partidas, marcando 2 golos. Retirou-se da selecção após a Taça das Nações Africanas de 2006.

Carreira

1989/90: Wydad Casablanca

1990/91: Wydad Casablanca

1991/92: Wydad Casablanca

1992/93: Wydad Casablanca

1993/94: Nantes

1994/95: Sporting

1995/96: Sporting

1996/97: Deportivo

1997/98: Deportivo

1998/99: Deportivo

1999/00: Deportivo

2000/01: Deportivo

2001/02: Deportivo

2002/03: Deportivo

2003/04: Deportivo

2004/05: Tottenham

2005/06: Tottenham

Carreira no Sporting*

1994/95: 26 2 / 5 - / - -

1995/96: 28 3 / 7 - / 4 -

*Época: Campeonato (J; G)/ Taça (J;G)/ Europa (J;G)

Avaliação: Craque

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Nº4: Didier Lang



  • Didier Lang.
  • Médio Centro.
  • Nasceu a 15 de Dezembro de 1970 em Metz (França).
  • Títulos no Sporting: Nada a assinalar.

Na história recente do Sporting, não deve ter havido época mais conturbada do que a de 1997/98: 4º lugar no Campeonato, eliminação na Fase de Grupos da Liga dos Campeões, eliminação nos quartos de final da Taça de Portugal (3-1 em Braga), quatro treinadores (três deles até ao Natal), processos disciplinares, dispensas, rescisões e uma imensidão de flops na equipa principal. Se dum lado houve Leandro, Oceano ou Simão, do outro houve Carlos Miguel, Gimenez, Ivo Damas, Ramírez, Assis, Renato, Leão e, claro, Didier Lang. Didier Lang, um francês, que jogava a médio centro, especialista em livres e cantos e que até nem era mau acabou por se tornar um rotundo flop, devido ao seu fraco jogo corrido e aos seus problemas disciplinares.

Nasceu em Metz, na França e cedo entrou para as camadas jovens do clube da cidade, o FC Metz. Com sucesso chegou à equipa principal em 1989 e assumiu-se como titular absoluto em 1992, acabando a época de 1992/93 com 29 jogos realizados e 1 golo marcado. Na época seguinte, Didi já era um dos esteios do meio campo do Metz, marcando 1 golo em 31 jogos, rendimento melhorado com os 3 golos da época que se seguiu.

Chegamos à época de 1996/97 em que na 2ª Eliminatória da Taça UEFA o Metz defronta e elimina o Sporting. Um dos principais culpados foi o loirinho Didier Lang. Na 1ª Mão, em Metz, vitória por 2-0 dos locais com golos aos 5m de Traoré após um canto cobrado por Lang e aos 80m pelo próprio Lang, de livre directo. Na 2ª Mão, em Lisboa, vitória do Sporting por 2-1 (golos de Sá Pinto a responder ao tento inaugural de Arpinon), sendo que Lang foi dos melhores em campo, ajudando a engolir o meio campo leonino. O Sporting era eliminado aos pés de um Metz em que despontavam, para além de Didi, Letizi, Song, Strasser e Robert Pires. Nessa época, Lang marcou 4 golos, a sua melhor marca.




Vídeo do Metz 2-0 Sporting.

Equipa do Metz em 1996/97. Lang é o primeiro, a contar da direita, na fila de baixo. Destaque também para Letizi (em cima à esquerda) e Pires (segundo, a contar da direita, na fila de cima)

No defeso de 1997, Norton de Matos não descansou enquanto não trouxe Didier Lang para o Sporting, para o ataque à Liga dos Campeões. Enfim, conseguiu-o a custo 0, mas com a pressão de orquestrar o meio campo leonino como o fazia em França. Lang nem começou mal. A 12 de Julho de 1997, na sua estreia pelo Sporting, marcou 2 golos no amigável contra o Celoricense, na vitória por 7-0 (3 golos de Paulo Alves e 1 de Afonso Martins e Oceano a juntar aos 2 de Didi). A época começou e na 1ª jornada da Liga dos Campeões, a 17 de Setembro, Alvalade teve uma noite de sonho com a vitória por 3-0 frente ao Mónaco de Barthez, Costinha, Ikpeba, Benarbia, Trezeguet e Henry, com exibição memorável de Lang, que fez as assistências de livre para os primeiros dois golos de Oceano e Hadji. No dia 5 de Outubro, Lang estreava-se a marcar no Campeonato, ao fazer de livre o golo da vitória do Sporting frente ao Salgueiros, em Alvalade (2-1, com o outro golo a ser marcado por Leandro em resposta ao golo de Nandinho).

Contudo, o Sporting dessa época com Octávio Machado ao leme jogava demasiado à defesa (o que, aliás, foi dito pelo vice-presidente leonino, Menezes Rodrigues), com jogo suportado por três trincos (Oceano, Lang e Pedro Martins), portanto foi sem surpresa que as coisas começaram a correr mal. Após levar um banho de bola do Leverkusen, em Alvalade (0-2), Octávio viu a sua posição fragilizada e o empate da semana seguinte em casa com o Varzim (1-1) foi a gota de água para os adeptos que tiraram os lenços brancos dos bolsos. Na véspera da viagem para a Alemanha, Octávio batia com a porta e o adjunto Francisco Vital ficou a comandar a equipa. Lang começou a jogar pior, ainda assim marcando 1 golo para a Taça frente ao Varzim a 15 de Novembro (3-0, após prolongamento). Pouco tempo depois, chegava Vicente Cantatore ao Sporting para aguentar apenas 26 dias no cargo (2 vitórias e 1 derrota). Foi aqui que Lang começou a ter problemas. Exprimiu a sua insatisfação por não jogar, juntamente com Afonso Martins e foi imediatamente afastado do plantel com direito a processo disciplinar. Em Janeiro, chegou Carlos Manuel para treinar o Sporting e reintegrou Lang. Lang fez mais 5 jogos, sendo que o seu último foi a 13 de Fevereiro de 1998, frente ao Boavista (0-1). Devido a mais problemas disciplinares foi afastado da equipa por Carlos Manuel ficando a treinar à parte até ao fim da época, sendo posteriormente dispensado numa enorme limpeza de balneário.

Plantel do Sporting para a época de 1997/98. Lang está na fila do meio e é o quinto a contar da direita.

Regressou a França para representar o Sochaux, fazendo 24 jogos. Na época seguinte, foi emprestado ao Troyes onde realizou 31 jogos e marcou 1 golo. A época 2000/01 marca o seu regresso ao Metz onde apenas participa num jogo, sendo dispensado para o Le Mans na época seguinte. Fez 15 jogos. A época de 2002/03 foi a sua última no futebol.


Carreira

1989/90: Metz

1990/91: Metz

1991/92: Metz

1992/93: Metz

1993/94: Metz

1994/95: Metz

1995/96: Metz

1996/97: Metz

1997/98: Sporting

1998/99: Sochaux

1999/00: Troyes

2000/01: Metz

2001/02: Le Mans

2002/03: Le Mans

Carreira no Sporting*

1997/98: 15 1 / 2 1 / 7 -

*Época: Campeonato (J; G)/ Taça (J;G)/ Europa (J;G)


Avaliação: Flop

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Nº3: Andrzej Mieczyslaw Juskowiak


  • Andrzej Mieczyslaw Juskowiak.
  • Avançado.
  • Nasceu a 3 de Novembro de 1970 em Gotsyn (Polónia).
  • Títulos no Sporting: 1 Taça de Portugal (1994/95).
  • 39 Internacionalizações pela Polónia com 13 golos marcados.

Andrzej Mieczyslaw Juskowiak foi um avançado polaco que representou o Sporting durante três épocas (entre 1992/93 e 1994/95) e que se caracterizou por ser alto, forte, de bigodinho aparado e com uma boa técnica de finalização. Contudo, não alcançou o nível que se esperava aquando da sua contratação. Não obstante esse facto, considero-o um craque do Sporting, um grande ponta de lança, que acabou por ser algo “queimado” por Carlos Queiroz juntamente com outras grandes esperanças sportinguistas (Costinha, Filipe Ramos, Paulo Torres, Cadete, etc.).
Na minha memória perdura esse grande golo ao Boavista, em Alvalade, no dia 10 de Abril de 1994, numa vitória por 3-1 (os golos do Sporting foram marcados por Figo aos 20m, Juskowiak aos 21m e Balakov aos 43m. Já o golo do Boavista penso que foi marcado pelo Nelo, mas não posso confirmar este facto.). Podem ver o golo aqui abaixo.

Mas recuemos no tempo até ao início da vida desportiva de Juskowiak. Nascido em 1970, em Gotsyn, Jusko fez a sua formação no clube da cidade-natal, o KS Kanya Gotsyn. Depois, passou para o Lech Poznan onde atingiu a impressionante marca de 43 golos em 85 jogos (média de meio golo por jogo, portanto). No Verão de 1992 é apresentado por Sousa Cintra como “André, o Polaco” para fazer parte do Sporting de Bobby Robson. As outras contratações desse ano foram: Stan Valckx, Cherbakov, Pedro Barny, Carlos Jorge e Capucho.
Contudo, a sua chegada é adiada porque Jusko faria parte da equipa polaca que disputou os Jogos Olímpicos desse ano. E foi aqui que começou a crescer água na boca aos adeptos leoninos. A Polónia, decadente após os gloriosos anos 70 e 80, é a surpresa da competição ao chegar à final, perdendo por 3-2 contra a anfitriã Espanha de Cañizares, Luis Enrique, Guardiola, Alfonso, Amavisca, Ferrer e Kiko. Juskowiak, à sua conta, marcou 7 golos em 6 jogos e foi o melhor marcador da competição, ficando em branco apenas no jogo dos quartos de final contra o Qatar! Sousa Cintra aproveitou para dizer que qualquer proposta que chegasse pelo polaco seria imediatamente rejeitada.
Vídeos de alguns golos de Jusko nos Jogos Olímpicos de 1992 aqui abaixo:









No Sporting estreou-se a marcar à 3ª jornada na vitória por 4-3 frente ao Famalicão, em Alvalade. Diga-se de passagem que esse início de época foi verdadeiramente desastroso: nas 10 primeiras jornadas, o saldo do Sporting era composto por 3 vitórias, 5 empates e 2 derrotas.

Nessa primeira época Juskowiak realizou 29 jogos oficiais, marcando 10 golos, incluindo o seu único tento nas competições europeias e protagonizou um momento de comédia quando um comentador desportivo disse que Jusko tinha “a vantagem de ter 2 pernas”.
Na segunda época (a tristemente recordada época de 1993/94), Jusko realizou 28 jogos marcando 9 golos, ficando de fora dos célebres 6-3, por ter sido expulso duas jornadas antes num jogo estranho nas Antas (derrota por 2-0 e 3 expulsões: Jusko, Peixe e Vujacic).


Na época seguinte, Juskowiak começou a ser preterido por Queiroz, mas estranhamente, nos 30 jogos que fez (a maioria como suplente utilizado) marcou 13 golos, a sua melhor marca no Sporting. No total: 87 jogos oficiais e 32 golos marcados.
Nessa época, o Sporting defrontou o Real Madrid para a 1ª eliminatória da Taça UEFA. Jusko jogou os 90 minutos nos dois jogos e ajudou a banalizar os merengues, apesar do Sporting não ter passado. Na 1ª mão, em Madrid, o Sporting perdeu por 1-0 com um erro (de muitos que ele dava) clamoroso de Lemajic, mas dominou o jogo levando a bola a embater por 3 vezes nos postes da baliza de Buyo. Juskowiak mandou uma à barra. Na 2ª mão, frustração em Alvalade, com Juskowiak como protagonista no final do encontro: aos 2m, Sá Pinto marca e iguala a eliminatória, mas aos 15m Laudrup empata em mais um erro de Lemajic. Aos 31m Oceano faz o 2-1 e coloca o Sporting a 1 golo da passagem à 2ª eliminatória. O Sporting dominava e aos 88m surge o momento mais frustrante da noite, com o remate de Juskowiak ao poste, a bola a passear sobre a linha de golo, Jorge Cadete de braços no ar a festejar o golo em vez de empurrar a bola para dentro da baliza, um defesa do Real Madrid a aliviar e o Sporting a ficar pelo caminho. Aos 49m, já tinha sido sonegada uma grande penalidade clara de Quique Flores sobre Juskowiak, segundo os jornais da época.


Uma palavra para as 2 expulsões de Juskowiak em Portugal. A primeira, a 3 de Maio de 1994 nas Antas, aos 35m após ter sido agarrado 2 vezes por Fernando Couto. À terceira, Juskowiak achou que era demais. Engalfinharam-se os dois junto à linha lateral, Couto projecta Andrzej para fora do terreno de jogo e segue com a bola. Juskowiak, inocente, olha para o árbitro Carlos Valente e chama-o para reclamar uma falta não assinalada, ao que não é atendido. Chama uma segunda vez e Carlos Valente faz o típico sinal desse tempo nas Antas do “não há nada”, ao que Jusko fixa os olhos em Couto e sem se interessar pela bola desfere-lhe um fantástico low-kick, que o deixa arrumado por uns minutos. Jusko olha para o adversário no chão com desprezo e é expulso pelo árbitro.
A segunda acontece no dia 10 de Setembro de 1994 na Amadora (vitória do Sporting por 2-0 com 2 golos de Jusko). Inconformado com um fora de jogo mal assinalado, Juskowiak brinda o assistente com o gesto de que este precisava de óculos, sendo imediatamente expulso por Jorge Coroado. Essa época acabou com a conquista da Taça de Portugal.


Na época seguinte, Juskowiak foi emprestado ao Olympiakos da Grécia onde manteve uma boa média de golos: 12 em 25 jogos. Em 1996, rumou ao Borussia Monchengladbach para por lá ficar durante duas épocas. Nessas duas épocas teve um rendimento muito discreto marcando apenas 12 golos em 52 jogos oficiais. Nesta altura, já Juskowiak tinha deixado de ser considerado uma promessa do futebol polaco, por não ter explodido.
Na época seguinte, permanece na Alemanha para representar o Wolfsburgo, onde permaneceu quatro épocas, marcando 39 golos em 108 jogos. É nessa altura que é preterido pela selecção polaca.



Na época de 2002/03, Jusko ruma ao Energie Cottbus para realizar 24 jogos e marcar 5 golos. É depois contratado pelos MetroStars, mas não se adapta à Liga Norte-Americana realizando somente 5 jogos e marcando 1 golo. Finalmente é contratado pelo último clube da sua carreira: o Erzgebirge Aue, da 2ª Divisão Alemã. O seu rendimento, nas 4 épocas resume-se em 33 golos em 110 jogos. No final da última época retirou-se com um golo marcado no empate do Aue a 2 bolas com o TSV Munique.

Na selecção A polaca, realizou 39 encontros marcando 13 golos.

No presente, Juskowiak pretende criar processos de formação para jovens polacos. Para tal deslocou-se a Lisboa para visitar a Academia de Alcochete.


Carreira

1987/88: Lech Poznan

1988/89: Lech Poznan

1989/90: Lech Poznan

1990/91: Lech Poznan

1991/92: Lech Poznan

1992/93: Sporting

1993/94: Sporting

1994/95: Sporting

1995/96: Olympiakos

1996/97: Borussia M'Gladbach

1997/98: Borussia M'Gladbach

1998/99: Wolfsburgo

1999/00: Wolfsburgo

2000/01: Wolfsburgo

2001/02: Wolfsburgo

2002/03: Energie Cottbus

2003: MetroStars

2003/04: Erzgebirge Aue

2004/05: Erzgebirge Aue

2005/06: Erzgebirge Aue

2006/07: Erzgebirge Aue

2007/08: Erzgebirge Aue

Carreira no Sporting*

1992/93: 25 9 / 2 - / 2 1

1993/94: 23 7 / 5 2 / - -

1994/95: 25 10 / 3 3 / 2 -

*Época: Campeonato (J; G)/ Taça (J;G)/ Europa (J;G)

Avaliação: Craque

(Com a colaboração de Ricardo Piedade)

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Nº2: Jean-Jacques Missé-Missé

  • Jean-Jacques Missé-Missé.
  • Avançado.
  • Nasceu a 7 de Agosto de 1968 em Yaoundé (Camarões).
  • Títulos no Sporting: Nada a assinalar.


Estávamos na pré-época, em 1996, quando chega o novo treinador do Sporting de seu nome Robert Waseige. O belga, nesta sua aventura em Lisboa, exige o seu menino de ouro, a jogar no Charleroi: Jean-Jacques Missé-Missé. Na minha memória vejo-o como um dos piores jogadores de sempre que terá passado pelo Sporting, que faz parte daquele grupo de contratações do meu clube que gosto de chamar “como é que se lembraram deste gajo?”. Avançado móvel, forte e possante Missé-Missé não justificou a sua contratação, apenas ficou recordado como um cepo da pior espécie, fazendo parte das contratações à Norton de Matos. Também reparei que é um jogador muito obscuro, já que há muitas contradições ao nível dos clubes que representou. Há clubes pelos quais supostamente passou que o negam nas suas páginas oficiais (pudera) e há contradições a nível de datas, especialmente nos clubes que representou nos Camarões e no ano em que deu o salto para a Europa.
Mas recuemos no tempo e tentemos fazer uma retrospectiva histórica da carreira deste flop. Nascido na capital dos Camarões, Yaoundé, em 1968, Jean-Jacques jogou em dois dos maiores clubes da sua cidade-natal: no Cânon e no Diamant. Rumou, depois a Douala para jogar no Union Douala e é daqui que dá o salto para a Europa. É o Malinois (este é dos tais que não se pode dar como dado adquirido) que o acolhe, e após pouco tempo ruma ao Charleroi onde consegue pôr os adeptos deste histórico clube a sorrir. Missé-Missé tem três épocas muito boas, marcando 15 golos na primeira, 10 na segunda e 12 na terceira.
É após essa terceira época, que, em 1996/97, Missé-Missé entra em Alvalade pelas mãos de Waseige e Norton de Matos, rotulado de avançado móvel e de diabo para qualquer defesa. Um deambulador ofensivo que transformava a cabeça em água aos defesas adversários. Posso dizer que transformava a cabeça em água, não aos defesas adversários, mas a nós, os adeptos do Sporting.
O seu saldo em jogos oficiais pelo Sporting é muito simples: 4 jogos no Campeonato e 1 na Taça UEFA, com nenhum golo marcado. No Campeonato, os jogos em que participou foram os seguintes: Na 1ª jornada (vitória por 3-1 em Espinho) foi titular e saiu aos 69m; na 2ª jornada (empate 0-0 com o Farense, em Alvalade) foi titular mais uma vez e saiu aos 56m; à 3ª jornada (vitória por 4-3 em Vila do Conde), foi suplente e entrou aos 88m; à 7ª jornada (vitória por 1-0 em Guimarães, com um golo de Ouattara no 1º minuto), fez o seu último jogo oficial pelo Sporting. Foi suplente e entrou aos 80m para o lugar do marcador do golo leonino.
Na Taça UEFA, fez o jogo completo na visita ao terreno do Montpellier (1-1).


Foto do plantel 1996/97. Missé-Missé é, salvo erro, o 2º a contar da direita na fila de baixo.

Mas, em jogos não oficiais, consta que Missé-Missé marcou mesmo…e não foi só um. Recordemos esses tempos felizes: em 10 de Agosto de 1996, o Sporting empatou a 2 golos no Anoeta com a Real Sociedad e Missé-Missé, que tinha entrado ao intervalo, marcou aos 61m! Três dias depois, o Sporting venceu, em Itália, o Torino por 1-0 com golo de…Missé-Missé (que viria a sair lesionado aos 24m) aos 13m. Mas não fica por aqui! Já a época tinha começado e o Sporting foi jogar com o Alcochetense. Venceu por 8-0, com 2 golos do camaronês (não é grande feito, de facto, tendo em conta que Pedro Martins marcou 3 golos e os outros foram marcados por Dominguez, Porfírio e Gil Baiano) aos 43 e 85m. Finalmente, em Novembro o Sporting realizou um amigável contra o Lourinhanense e Missé-Missé marcou aos 19m na vitória por 3-0.
No Natal, Waseige é despedido e entra para o seu lugar Octávio Machado que depressa põe Missé-Missé fora dos seus planos. Convém realçar que os avançados do Sporting nessa altura eram Paulo Alves, Ouattara e César Ramirez.
É então que Missé-Missé decide sair no final da época, dirigindo-se para a Turquia, para representar o Trabzonspor, do qual sai logo no mercado de Inverno com um saldo de 10 jogos e 1 golo marcado (o Sporting exigiu ao clube turco uma indemnização de 300 mil contos pela quebra do contrato. A última informação que encontrei dizia que o Sporting teria vencido em tribunal, mas o Trabzonspor iria recorrer. Não encontrei a decisão final). Vai para Norte, para o Dundee United da Escócia e o saldo é-nos familiar: 4 jogos e nenhum golo. Acaba essa época no Chesterfield da Second Division Inglesa (não há dados sobre o seu desempenho).
Na época seguinte, Missé-Missé ruma à Bélgica onde tinha sido feliz, para representar o La Louvière (o site oficial do clube nega), mas é emprestado ao Ethnikos Asteras onde consegue renascer, marcando 9 golos em 30 jogos. Regressa ao La Louvière, para falhar apenas um jogo e marcar 4 golos.
Em 2001/02, o La Louvière entra no Campeonato a perder, 8-2 (!) para o GBA, jogo em que Jota-Jota marcou. Daí até final do Campeonato, a equipa foi-se desmembrando começando no treinador e acabando no próprio Missé-Missé. Na época seguinte representa o Oostende da 2ª Divisão Belga.


No Trabzonspor, em 1997, Missé-Missé é fácil de reconhecer: na fila de baixo, é o primeiro a contar da esquerda.

A época de 2003/04, fica marcada pela passagem pelo Mechelen, na Bélgica, para no final, Jean-Jacques, acabar a carreira de jogador. Daí para cá, perdeu-se o seu rasto.
Uma palavra para a sua carreira como Internacional pelos Camarões que está envolta em mistério (como não podia deixar de ser). Num site encontrei referências a alguns jogos em que Missé-Missé terá participado pela selecção camaronesa, mas o site da Federação nega tal facto.

Carreira

1991/92: Union Douala

1992/93: FC Malinois

1993/94: Charleroi

1994/95: Charleroi

1995/96: Charleroi

1996/97: Sporting

1997/98: Trabzonspor
Dundee United
Chesterfield

1998/99: Ethnikos Asteras

1999/00: La Louvière

2000/01: La Louvière

2001/02: La Louvière

2002/03: Oostende

2003/04: Mechelen

Carreira no Sporting*

1996/97: 4 - / - - / 1 -

*Época: Campeonato (J; G)/ Taça (J;G)/ Europa (J;G)

Avaliação: Flop

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Nº1: Vítor Manuel Afonso Damas de Oliveira



· Vítor Manuel Afonso Damas de Oliveira.
· Guarda-redes.
· Nasceu a 8 de Outubro de 1947, em Lisboa.
· Faleceu a 13 de Setembro de 2003, em Lisboa.
· Títulos no Sporting: 2 Campeonatos Nacionais (1969/70 e 1973/74), 3 Taças de Portugal (1970/71, 1972/73 e 1973/74) e 1 Supertaça (1987/88).
· 29 Internacionalizações

Vítor Manuel Afonso Damas de Oliveira, o eterno nº1, foi um dos melhores guarda-redes portugueses de sempre e talvez o melhor guarda-redes de sempre do Sporting. Começou a jogar aos 14 anos e só abandonou os relvados aos 41 anos. Era extremamente elegante na baliza, tudo nele era agilidade, intuição e espectáculo. A isso aliava uns reflexos fantásticos e uma habilidade fora do comum, nos guarda-redes, para jogar com os pés. Ainda é recordista de jogos pelo Sporting, ao ter vestido por 743 vezes a camisola leonina!




Vítor Damas entrou para o Sporting aos 14 anos através de um vizinho que jogava ténis de mesa. Queria ser avançado, mas como era o mais pequeno teve que ir para a baliza de onde nunca mais saiu. O seu primeiro grande jogo foi contra o Benfica nos juvenis. O jogo não lhe correu bem, como o próprio admitiu: “Nos dias anteriores todo eu era uma pilha! Quando entrei no rectângulo o estádio parecia um mundo. Veio o primeiro remate e saltei à gato para recolher o esférico, mas passou-me por baixo da barriga. Felizmente que a bola embateu no poste e ressaltou para fora. Todavia, o meu nervosismo originou dois golos para os encarnados e, ao segundo, não pude mais. Saí debulhado em lágrimas, sentindo o peso do fracasso, para mim de dimensões imensuráveis. Porém, no ano seguinte, em 1962, já tinha vencido essas debilidades psicológicas, tudo nos correu bem e o Sporting alcançou o título nacional, vencendo, em Leiria, a Académica de forma concludente, por 5-1. Era o meu primeiro título nacional”.
Aos 17 anos assinou o primeiro contrato profissional (20 contos de “luvas” e mais 5 de salário) e, aos 19, assumiu-se como séria alternativa ao histórico Carvalho.
Em 1967, fez o primeiro jogo para o Campeonato Nacional da I Divisão, frente ao Porto, sofrendo dois golos. Passou novamente para suplente de Carvalho. Quando faltavam seis jornadas para o final do Campeonato agarrou a titularidade e não mais a largou. Histórico foi, também, o dia 18 de Setembro de 1968, não pela vitória por 4-0 frente ao Valência, mas sim porque foi o dia em que Damas se estreou na Europa.
Em 1969, estreou-se pela Selecção Nacional, com apenas 21 anos, frente ao México.
Para se ter a noção da importância de Damas, na baliza leonina, o jornalista de A Bola, Carlos Pinhão, escreveu uma vez em manchete: “Chama-se Damas, o Eusébio do Sporting”. Foram várias as histórias nos duelos entre as duas figuras do futebol português, mas há três que sobressaem claramente: a primeira, em 9 de Novembro de 1969 (1-0 para o Sporting em Alvalade), quando Eusébio cabeceou por cima de Damas e este, numa estirada prodigiosa para canto, suscitou um clamor da multidão; a segunda em 2 de Dezembro de 1973 (2-0 para o Benfica na Luz), quando Damas julgou que a barra tivesse devolvido um poderoso livre de Eusébio que, nessa altura, já festejava o golo, depois de a bola, isso sim, ter batido com precisão no ferro de dentro da baliza e ressaltado para as mãos do nº 1 leonino. A terceira, um remate de Eusébio que Damas defende de forma brilhante, Eusébio remata outra vez e Damas como um verdadeiro gato levanta-se e desvia a bola para canto. O Pantera Negra até o foi beijar.
A propósito do primeiro lance, Augusto Inácio estava em Alvalade nesse dia: “Ainda era miúdo, tinha 12/13 anos e vi Damas fazer uma espectacular defesa com um golpe de rins a remate de Eusébio. Ao longo da minha carreira, nunca vi nada igual. Foi uma defesa impossível que colocou o estádio em delírio. Como grande senhor, Eusébio cumprimentou o Damas logo a seguir”.
Acrescente-se que essa defesa mereceu elogios, ao ponto de a compararem àquela do inglês Gordon Banks a cabeceamento de Pelé, em pleno Mundial 70, que entrou para a história como a mais espectacular de sempre.





Por falar em Mundial 70 recue-se a esse ano, ao dia 27 de Dezembro, em que o Sporting foi humilhado na Luz (5-1). O lateral esquerdo desse jogo, Hilário, recorda que “Damas foi eleito o melhor em campo. Sem ele na baliza, tínhamos levado muitos mais golos. Nesse dia, ele sofreu cinco golos, mas fez milagres para evitar outros tantos”. O lateral direito desse dia, Pedro Gomes disse que: “Nesse jogo com o Benfica, foi ele quem evitou um resultado ainda mais dilatado, ao ponto de ter sido eleito o melhor em campo. Pouco há a dizer quando se perde por 5-1 e quem é elogiado é o guarda-redes”.
Damas confirmou ao longo dos anos o enorme guarda-redes que era, devido à sua elasticidade e reflexos apuradíssimos. O seu grande defeito? A irreverência e o facto de detestar perder, como aponta Pedro Gomes: “Conheci-o bem e ele detestava perder. Até empatar! Uma vez, empatámos com a Académica (4-4, a 20 de Janeiro de 1985), em Alvalade, e ele chegou ao balneário a dizer que não queria jogar mais. Era um jogador inconstante quando as coisas não corriam bem à equipa. Tinha receio de ser cúmplice. Alguns minutos depois, falei calmamente com ele e já estava tudo bem. Foi uma irritação do momento”.
O central Venâncio recordou esta faceta de Damas: “Foi um monstro na baliza. Toda a gente o conhecia e o admirava. Tive o prazer de jogar com ele muitos anos e, ao início, ficava assustado quando o via a sair da baliza em direcção a nós, defesas, para nos ralhar, a trincar a língua de raiva. Mas depois habituei-me”.
A 3 de Novembro de 1971, Damas realizou uma das mais fantásticas exibições de um guarda-redes português em provas da UEFA, curiosamente numa fase em que estava a atravessar um momento menos bom de forma. O Sporting tinha perdido 3-2 em Glasgow frente ao Rangers e, aos 90 minutos, em Lisboa, vencia por 3-2. No prolongamento, um golo para cada lado colocou o resultado em 4-3. Os regulamentos diziam que os golos marcados no prolongamento valiam como se fossem marcados no tempo regulamentar, ou seja, valiam mais para a equipa visitante. O árbitro Van Ravens não se recordou desse pormenor e ordenou a marcação de grandes penalidades. Damas defendeu 3 (!) (a 2ª das quais por 2 vezes, por se ter mexido antes do tempo!), o que no fim acabou por ser inútil. Mas, fica para a história essa exibição memorável.
No ano seguinte, a 27 de Setembro de 1972, Damas conheceu o lado oposto. O Sporting foi derrotado por 6-1, na Escócia, frente ao Hibernians. A defesa leonina esteve muito mal, Damas incluído. Este foi apontado a dedo como principal responsável pela derrota pelo técnico Ronnie Allen: “Damas teve culpa em 3 golos, Damas é o culpado por esta eliminação”. O que é certo é que na temporada seguinte, Damas continuava titular da baliza leonina, ao passo que Ronnie Allen saiu do Sporting.



No dia 18 de Setembro de 1974, o Sporting foi jogar a St. Étienne e perdeu por 2-0. A época corria mal, com a equipa afectada psicologicamente pelos problemas de inscrição de Di Stefano como treinador e esse nervosismo foi evidente. No primeiro golo dos franceses, aos 15 minutos, Alhinho teve uma falha clamorosa. Damas exaltou-se de tal maneira com o central que quase chegaram a vias de facto. As exibições históricas de Damas voltaram depois, tendo como exemplo, o mês de Novembro do mesmo ano, quando Portugal foi jogar a Wembley. Os ingleses diziam que seriam mais de 5 e Portugal foi mesmo massacrado, mas Damas com uma fantástica exibição garantiu que o resultado ficasse em 0-0. Um ano depois, novo episódio curioso. Numa noite de nevoeiro, nas Antas (18 de Outubro de 1975), Gomes atira a bola às malhas laterais de Damas. Um apanha-bolas aproveita a desorientação geral e coloca-a dentro da baliza. O golo foi validado, mas o Sporting acabou por vencer por 3-2.


Em 1976, Damas sai do Sporting. Fala-se num contrato assinado com o FC Porto, de Pedroto, o que faz com que seja doentiamente assobiado no último jogo do Campeonato, mas Damas vai para Espanha representar o Racing Santander durante 4 épocas (1976/77 a 1979/80). Regressa a Portugal em 1980 para representar o Guimarães de…Pedroto, ficando no clube por 2 anos rumando, depois ao Portimonense jogando lá por mais 2 anos. É convocado para o Euro 84 onde é suplente de Bento, o outro grande guarda-redes da sua geração. Em 1984 regressa ao Sporting já com 36 anos, para vencer apenas 1 Supertaça.
No ano de 1986, retira-se da selecção contabilizando 2 presenças no Mundial 86, no México.




Damas foi o guarda-redes do Sporting, no memorável dia 14 de Dezembro de 1986, quando o Sporting bateu o Benfica por 7-1.
Esta foi a equipa dessa tarde. Em cima da esquerda para a direita: Venâncio, Oceano, Manuel Marques (massagista), Virgílio, Meade e Damas. Em baixo: Gabriel, Zinho, Fernando Mendes, Manuel Fernandes, Litos e Mário Jorge.



Na época de 1987/88, Damas vinha a perder lugar para o jovem Rui Correia. A 3 de Novembro de 1987, o técnico Keith Burkinshaw devolveu-lhe a titularidade na 2ª mão da 2ª eliminatória da Taça das Taças, frente ao Kalmar (5-0). No final, ironia de Damas: “Não estou ao serviço do senhor Burkinshaw nem me estou a servir a mim próprio, sirvo apenas o Sporting Clube de Portugal. Suplente? Nem sempre fui suplente, cheguei até a ser terceiro guarda-redes…”
O seu último jogo, com 41 anos de idade, foi a 27 de Novembro de 1988, a contar para o Campeonato Nacional da I Divisão, no Estádio do Fontelo, em Viseu, contra o Académico local. A partida terminou empatada 2-2.
Vítor Damas terminou desta forma a carreira, sendo convidado pelo presidente Jorge Gonçalves para adjunto de Pedro Rocha. Passou a técnico principal em Fevereiro de 1989, para regressar a treinador-adjunto. Na época seguinte teria que assegurar, mais uma vez, o comando da equipa durante a troca de treinador. Foi treinador dos guarda-redes do plantel sénior até 1999, altura em que passou a treinador principal do então clube-satélite, Lourinhanense. Treinou a equipa B do Sporting em 2001, saindo no final da época.



No dia 6 de Abril de 2003, o Sporting homenageou Damas no início do jogo Sporting – Vitória Guimarães. Uma homenagem emotiva para todos os presentes, na qual se proferiu um discurso (do qual apresento só uma parte): “Este é um momento muito especial. Temos entre nós Vítor Damas, uma figura inesquecível do Sporting, um guarda-redes que fez história no futebol português, um atleta que deixou a sua marca gravada para sempre na memória de quem teve a sorte de o ver actuar. Vítor Damas começou a jogar aos 14 anos no Sporting e só abandonou as balizas aos 41. (…) Como guarda-redes, Vítor Damas foi um atleta único. A sua elegância, a sua eficácia, os seus reflexos fantásticos permitiram-lhe criar um estilo irrepetível que arrebatou multidões e ajudou gerações a gostarem ainda mais de futebol e do Sporting. Vítor Damas, na baliza, era um espectáculo dentro do maior espectáculo do Mundo! Vestir 743 vezes a camisola do Sporting é um feito único. Alcançá-lo com a qualidade, a dignidade, a dedicação e o orgulho com que o fez Vítor Damas é um enorme motivo de admiração e gratidão de todos os sportinguistas”.
Pouco tempo antes de morrer, Damas disse ao jornal Sporting que queria “estar presente na inauguração do novo Estádio e se isso acontecer posso morrer feliz”. Pode-se dizer, então, que Vítor Damas morreu feliz. Não resistiu a doença prolongada e faleceu a 13 de Setembro de 2003, com 55 anos, na véspera de um Sporting – Nacional. Curiosamente, Vítor Damas, que pertencia ao painel de apostadores do jornal Expresso, previra 2-0 para o Sporting e acertou!






Carreira


1966/67: Sporting


1967/68: Sporting


1968/69: Sporting


1969/70: Sporting


1970/71: Sporting


1971/72: Sporting


1972/73: Sporting


1973/74: Sporting


1974/75: Sporting


1975/76: Sporting


1976/77: Racing Santander


1977/78: Racing Santander


1978/79: Racing Santander


1979/80: Racing Santander


1980/81: V. Guimarães


1981/82: V. Guimarães


1982/83: Portimonense


1983/84: Portimonense


1984/85: Sporting


1985/86: Sporting


1986/87: Sporting


1987/88: Sporting


1988/89: Sporting



Carreira no Sporting*


1966/67: 7 -3/ - -/ - -


1967/68: 1 -1/ - -/ - -


1968/69: 26 -19/ 6 -4/ 4 -6


1969/70: 25 -15/ 8 -8/ 4 -5


1970/71: 26 -14/ 8 -5/ 4 -4


1971/72: 28 -25/ 4 -6/ 4 -6


1972/73: 30 -31/ 5 -3/ 2 -7


1973/74: 29 -20/ 5 -5/ 8 -7


1974/75: 30 -24/ 5 -2/ 2 -3


1975/76: 27 -24/ 3 -2/ 4 -6


1984/85: 27 -25/ 3 -1/ 4 -4


1985/86: 29 -16/ 5 -7/ 8 -8


1986/87: 23 -22/ 7 -5/ 3 -2


1987/88: 16 -13/ 1 -1/ 2 -1


1988/89: 8 -6/ - -/ 3 -3


*Época: Campeonato (J; G)/ Taça (J;G)/ Europa (J;G)


Avaliação: Craque

Apresentação

Todos os clubes têm os seus craques: aqueles jogadores e até treinadores que são verdadeiros ídolos dos adeptos. Mas também há o outro lado, os flops, os assobiados e que não deixam saudades. Este blog ao responder a um desafio que me foi colocado e baseado neste excelente blog que trata do mesmo assunto, mas do outro lado da 2ª Circular, pretende homenagear os dois lados da barricada e formular uma avaliação pessoal sobre determinado jogador ou treinador: se é craque ou flop. A escolha de jogadores é aleatória, apenas obedecendo a 1 critério: procurarei colocar 11 jogadores e 1 treinador em 4-4-2, sempre nessa sequência. Quanto à ordem entre craque e flop, nas primeiras 2 equipas haverá alternância, sendo que a partir daí será completamente aleatório, com o cuidado de não fazer equipas com mais de 7 craques ou mais de 7 flops.
Um aviso: para decidir se determinado jogador é craque ou flop, atenderei apenas à sua carreira no Sporting. Pode haver casos de grandes craques que não tenham vingado em Alvalade e que serão naturalmente considerados flops apesar de sucesso noutros clubes e vice-versa. E até pode haver aqueles casos que não vingaram completamente, mas poderei considerar craques. Feito o aviso, vamos a isto e espero que aprendam pelo menos tanto quanto eu aprendi, ao pesquisar sobre os jogadores e treinadores do Sporting Clube de Portugal. Naturalmente, o blog é aberto a participação de pessoas de todos os clubes.